5 de fev. de 2009

Amores mais trágicos do que risíveis


"é triste a vida quando não se pode levar ninguém a sério", in Risíveis Amores

Considerado por Milan Kundera seu melhor trabalho, Risíveis Amores nos apresenta 7 histórias de equívocos. Todos os mal-entendidos são capazes de tranformar todos os sentimentos existentes, pois diante da estranheza enfrentada pelos personagens ao perceber o outro por um novo ângulo em circustâncias inéditas, estes mergulham numa sensação de irrealidade e, como consequência, perdem os contornos de suas emoções. A incapacidade de comunicação, com eles mesmos e entre eles, sobretudo, a falta de identificação entre seus amores impossibilita o real conhecimento, uma comunicação autêntica entre si.

Em seguida um trecho dessa obra, do último capítulo intitulado 'Eduardo e Deus' :

“e viu de repente que todas as pessoas com quem convivia nessa cidade eram, na realidade, apenas linhas absorvidas numa folha de mata-borrão, seres com atitudes intercambiáveis, criaturas sem substância sólida; mas o que era pior, bem pior (disse subitamente a si mesmo), é que ele próprio não era senão uma sombra de todos esses personagens fantasmagóricos, pois esgotava todos os recursos de sua inteligência com o único objetivo de se adaptar a eles e imitá-los, e por mais que os imitasse com um riso secreto, sem levá-los a sério, por mais que se esforçasse desse modo para ridicularizá-los secretamente, isso não mudava nada, pois uma imitação, mesmo maldosa, é sempre uma imitação; mesmo uma sombra que debocha continua sendo uma sombra, uma coisa secundária, derivada, miserável".

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